Hoje - antes tarde do que nunca, após várias hostilizações - trago mais um post com a banda Gametas, representados pelo baterista Rafael Bralha (@didi_ramone).
Esse post na Sexta-Feira serve também para alertar à todos que os Gametas estarão trazendo toda sua acidez, humor, terror... ao Interior Paulista nesse final de semana. Sábado (27) em Catanduva, cidade tradicionalmente rockeira que já recebeu show's de Marky Ramone e Marcelo Nova, e Domingão em Araraquara... cidade sede do 'Araraquararock' (onde os Gametas se apresentaram na última edição do evento)... então conterrâneos 'interiorrranos': preparem-se para toda a fertilidade dos Gametas (... tenho certeza que serei ofendido por realizar este trocadilho infame!)!!!
Segue abaixo o TOP10 de Discos enviado por Bralha:
1 - Nevermind/ Nirvana (1991) - Esse era um tempo em que a MTV Brasil tinha uma certa "independência" da matriz americana, refletindo isso na programação, que acabou se tornando uma as principais fontes de informação da galera, junto com o hábito de trocar fitas-demo. Banda nacionais como Virna Lisi, Yo-Ho-Delic e Little Quail tinham espaço, pouco depois houve o estouro dos Raimundos, Chico Science, tudo com grande parcela de culpa da MTV. Isso tudo pra não parece estranho eu dizer que conheci o Nirvana por ali. Foi numa tarde de Disk MTV que começou aquele clipe com a guitarra hipnótica e os caras desarrumados no meio de uma quadra enfumaçada. A essa altura eu já estava me vendo no meio daquela quadra quebrando tudo com a galera ao som de "Smells Like (...)" e todos os dias ficava de plantão esperando passar novamente até poder comprar o "Nevermind" e ficar maluco de vez. O som do disco é demais, a guitarrinha do Kurt começa e a bateria pula na sua cara, com a distorção te moendo o cérebro. Muito rock! "In Bloom" é fogo na roupa, esse cara era doido! "Come As You Are", "Lithium", "Polly", "Drain You", ah, não preciso nem falar, esse disco é um dos melhores de todos os tempos!!!
2 - Loco Live/ Ramones (1992) - Esse disco me fez fugir de casa. 33 músicas em pouco mais de uma hora, todos os clássicos na velocidade da luz e adrenalina à mil. Foi base pra o set da última turnê dos caras (Adios Amigos), e com 14 anos tive que ir escondido dar adeus aos meus amigos! A intro com "Durango 95" prepara o terreno pros caras detonarem "Teenage Lobotomy", "Psycho Therapy", "Blitzkrieg Bop" e "Rock and Roll Radio" numa sequência ALUCINANTE. "I Wanna Be Sedated","Pet Sematary", "The KKK Took My Baby Away", difícil pinçar destaques no repertório desse disco, gravado ao vivo na Espanha em 91, já no fim da tour do "Brain Drain". Ouça esse disco já!
3 - Creatures Of The Night/Kiss (1981) - Os caras citaram o "Kiss Alive", e realmente é o que melhor define o Kiss. Só que quando finalmente pude comprar meu "Kiss Alive" (uma edição importada em cd duplo que me custou meses de economia), meu vinil do "Creatures (...)" já estava detonado de tanto escutar. Peter Criss é um super-herói, mas a bateria em forma de tanque de guerra da turnê não deixava dúvidas, Eric Carr virava um gigante atrás dos tambores, apesar de sua estatura pouco destacada. Esse disco aproximou o Kiss de um som mais heavy, os riffs são menos festivos e mais pesados ("Rock n Roll Hell", "War Machine"). Ainda lembro da estranha sensação de ter um gigante vindo em minha direção durante a intro de "I Love It Loud". Ouvir esse disco é andar num HOT ROD envenenado em noite de neblina cheio de gatas com delineador preto no banco de trás.
4 - Shadows Collide With People/John Frusciante (2004) - Frusciante é genial. Não, ele não reinventou a roda (e nem tentou!) em nenhum dos seus (muitos!) discos solo. Nem ao menos se prende a um estilo só, pelo contrário. Quando
compôs seus lendários "seis discos em seis meses" em 2004, dedicou cada a um a um estilo diferente. Setentista, grunge, folk, krautrock/eletrônico, new wave e esse "Shadows (...)", disco de puro rock transbordando feeling em cada faixa. Com o coração exposto em letras reveladoras, Frusciante passeia por temas relacionados ao seu passado obscuro de vício e loucura, expurgando seus demônios através da inspiração que tira deles. "Carvel" começa contida e se torna visceral a medida que John chega a um estágio onde a "energia continua viva". Significa muito para quem teve que extrair os dentes anos antes para não morrer de infecção generalizada devido a heroína. Em "Omission" divide os
méritos com Josh Klinghoffer (seu colaborador e substituto no Chilli Peppers) e depois de "Regret" e "Ricky" você já está se perguntando "como esse cara consegue?". O disco segue variando entre belas baladas soft-rock ("Song To Sing When I´m Lonely";"Times Goes Back") e temas rápidos de poucos acordes ("Second Walk"; "This Cold"), todas com melodias incríveis e solos emocionantes. O disco passeia por um clima um tanto otimista, apesar de tratar de episódios tão pessoais e dolorosos para o guitarrista. Talvez uma tentativa de mostrar que está tudo bem e ele está de volta ao mundo dos vivos. Com certeza um dos melhores "discos que ninquém conhece" que existe!
5 - Paranoid/Black Sabbath (1970) - O disco perfeito. Oito minutos de guitarras cortantes e cavernosas combinadas a bateria nervosa em "War Pigs" pra começar. E foda-se o padrão 3 minutos exigido pelas rádios. "Gostamos de Beatles, mas queremos foder sua cabeça", pareciam dizer os quatro sujeitinhos sujos e mal encarados de Birmingham. Em "Paranoid" Ozzy morde, pra depois sussurrar como o diabo em "Planet Caravan". "Iron Man" é mãozada de ferro na lata dos frescos, enquanto "Electric Funeral" é lisergia carregadíssima, uma bad trip de arrepiar os cabelinhos da nuca do Papa!! Quer mais riffs? "Hand Of Doom" e a instrumental "Rat Salad" arrabentam sua cabeça! Se você chegou vivo até aqui, abraça o capeta e dança "Fairies Wear Boots" com ele!!!
6 - The Piper At The Fates Of Dawn/Pink Floyd (1967) - Em 1966/67 Londres vivia uma agitação cultural nunca vista antes. Os jovens do pós-guerra tinham uma condição que nenhuma geração anterior tivera, com direito a escolha e dinheiro no bolso para consumir. Em comum todos escolheram ser diferentes dos pais. Era a cultura jovem nacendo e suas milhares de ramificações começando a atrair a atençao pra si. Uma dessas turmas se autointitulava o "underground" londrino, consumindo muita poesia, fotografia e música. O Pink Floyd, com seu show extremamente sensorial, com jogos de luzes e música vanguardista, conquistou essa galera e começou seu alto vôo na história da musica pop do clube londrino UFO, onde, encharcados de ácido, testavam o repertório de seu primeiro álbum, o ambicioso "The Piper At The Gates Of Dawn". Sob a batuta de Syd Barret, a banda experimentava o sucesso subterrâneo com longos improvisos em cima de temas simples, conseguindo hipnotizar sua crescente platéia. Gravado em Abbey Road no mesmo período em que era concebido "Sgt Peppers (...)", o álbum dava uma cara espacial ao rock dos 60, com canções alucinadas como "Astronomy Domine" e "Interstellar Overdrive", personagens engraçados em "The Gnome" e "Scarecrow" e gemas pop com acabamento completamente maluco ("Flaming" e "Power R. Touch"). Syd Barret concebia soluções de arranjo fora do comum, mostrando um potencial de expansão da mente que, com a ajuda do consumo excessivo de ácido, mostrou-se demais para o jovem compositor. Ao longo da turnê Dave Gilmour foi contratado
para tocar guitarra nos shows, já que Syd tinha se tornado imprevivísel (e
capaz de atos como tocar um único acorde durante o show inteiro), mas como o
tempo foi impossível pra banda manter Barret, que já se encontrava à beira do
colapso mental que o acometeu e fez retirar-se definitvamente da música.
Gilmour assumiu o posto e o resto é história!
7 - Raw Power/The Stooges (1973) - Violência e revolta, puro suco da rebeldia drogada, desiludida com o fim do sonho dos anos 60. De baterista obscuro a vocalista da banda mais louca e evitada da transição 60/70, Iggy Pop levou suas atitudes loucas as raias da insanidade, com direito a auto-multiação! Só que no meio disso tudo tinha muita energia voltada pra música, e, enquanto as drogas deixaram, essa banda produziu toneladas de decibéis da melhor qualidade! "Raw Power" foi mixado por David Bowie, que viu da Inglaterra uma bombástica apresentação dos Stooges no Festival de Cincinnati, onde Iggy se besuntou de pasta de amendoim e se jogou nos braços da massa. Impressionado, voou ao
encontro dos maníacos, mas acabou atrapalhando mais do que ajudando. Faixas absolutamente essenciais pra qualquer roqueiro que tenha orgulho de arrotar em público, "Raw Power", "Search & Destroy", "Your Pretty Face Is Going To Hell" e "Penetration" foram ignoradas pelo mainstream, desiludindo a banda e afundando ainda mais os integrantes nas drogas, o que levou a derrocada uma banda que nasceu pra destruir. Em 1997 o disco teve uma remixagem com o volume nas alturas e mostrou pra todo mundo como se ofendeia pessoas no início dos 70!
8 - Roots/Sepultura (1996) - Em 1996 o Sepultura era a maior banda de metal do mundo. Não tinha Metallica (em baixa com os fiascos "Load" e "Reload"), não tinha Slayer, não tinha Megadeth. Depois de assombrar o velho mundo com o incrível "Chaos A.D" ninguém poderia imaginar que os "jungle boys" tinham pernas para dar mais um passo gigantesco não só pra banda, mas pra todo a música pesada!! Os irmãos Max e Igor Cavalera com Paulo Jr e Andreas Kisser soavam como um trovão. Era o que o metal tinha de mais expressivo na época. Gravado num rancho americano com produção de Ross Robinson e usando equipamentos vintage, a banda achou um som que seria amplamente copiado e diluído nos anos seguintes, sendo um dos pilares para o surgimento do famigerado new metal, grande parte por culpa do próprio Robinson, que usou a fórmula com qualquer Zé Mané que aparecesse de roupa da Adidas e dread locks podres no seu rancho. Mas naquele momento algo diferente aconteceu, e faixas como "Roots Bloody Roots", "Attitude", "Rattamahatta" (com participação de Carlinhos Brown) e "Born Sttuborn" embaralharam a cabeça dos gringos e os levaram direto ao topo do mainstream! Os mais radicais que se assustaram com as notícias do uso de percussão e participações de gosto duvidoso não tiveram nem tempo pra pensar se iam repudiar o trabalho, tamanha a violência das músicas. Era metal, era extremo, mas era diferente demais. E acabou sendo demais pros caras também, que se separaram no fim da turnê.
9 - Rust In Peace/Megadeth (1991) - Clássico absoluto e insuperável do Megadeth. Na época do Rock in Rio II eu tinha 9 anos e precisava de um "disco do Rock in Rio". Quando o vendedor da loja deu as opções não hesitei em escolher o que tinha uma caveira na capa mostrando um E.T para vários chefes de estado (Bush pai, Gorbatchev e outros fascínoras). Quando a agulha tocou o vinil e o riff MONSTRUOSO de "Holy Wars" saiu das caixas foi meio que um susto. A bateria parecia um caminhão desgovernado passando por cima da porra toda, enquanto eu ficava na dúvida se o riff era feito por uma guitarra ou uma serra elétrica!! "Hangar 18" é de cair o queixo, e ali percebi que a diversão estava só
começando! Que raiva esses caras estavam quando fizeram "Take No Prisioners"! Ouça "Poison Was The Cure" e se pergunte quantos dedos Mustaine tem em cada mão. "Tornado Of Souls" não te dá sossego e quando "Rust In Peace ... Polaris" acaba você se pega recobrando o fôlego depois dessa violência toda. Que inveja de quem estava no Maracanã vendo os caras detonando essas músicas em janeiro de 91!
10 - Stranger Than Fiction/Bad Religion (1994) - É complicado escolher apenas um disco da fase clássica do Bad Religion, mas nesse álbum de 1994 os caras chegaram a um nível que nunca mais seria alcançado por eles. A velocidade de discos como "Generator" e "Suffer" diminiu, destacando ainda mais as melodias e riffs surpreendentes, o que fica claro logo no início com "Incomplete" e "Leave To Mine". "Infected" teve um clipe de muito sucesso na MTV e levou o Bad Religion a um patamar inédito na carreira, que seria acentuado com o disco seguinte "The Gray Race" e seus diversos hits de rádio."Television" e "Marked" também se destacam, mas o mehor fica pro final com a apoteótica "What It Is". Discaço!!